Em casa, finalmente

Cheguei cedo na maternidade. Estava lá com ele e veio uma médica me falar que ele estava de alta.
Bruna: "Vixe, e agora?"
Eu não sabia. Só tinham me falado ontem que talvez ele sairia hoje. Falaram que ele só precisava fazer o teste da orelha para sair.
Fiquei pensando em tudo o que tinha que fazer. Pelo menos o bebê conforto já estava no carro mas eu estava sozinha. Será que daria certo?
Por volta das 11 foram fazer o teste da orelha. A médica pediu para fazê-lo dormir para o teste. Peguei ele no colo e ele dormiu bem. O teste deu normal, ou seja, ele não é surdo. Isso eu já sabia, ele leva cada susto com a barulheira da maternidade.
Voltei para a UCI já beirando meio dia. Eu estava azul de fome. Ele também. Já tinha acabado o horário de visita e tinha passado o horário dele mamar também. Pediram para eu dar o leite para ele. Dei mas eu já estava quase tomando eu o leite de tanta fome que eu estava. Depois a médica pediu para eu esperar que ela ia me orientar algumas coisas. Fiquei esperando mais um tempo e ela veio. Explicou um monte de coisas de vacinas e encaminhamentos médicos. Disse que ele também tem que tomar uma vacina para não dar chiado no pulmão que custa mais de mil reais. Isso por causa da cardiopatia dele.
Depois que ela me orientou ele já estava liberado. Pediram para eu pegar o bebê conforto.
Saí correndo, peguei o carro e fui numa loja perto da maternidade comprar uma banheira e mamadeira. O guri tem preguiça de mamar no peito. Ficou tempo demais na maternidade mamando na mamadeira.
Quem acompanhou toda a história aqui sabe porque meu filho nasceu e ele não tinha nada preparado. Os médicos nunca nos disseram que ele iria para casa tão cedo. Na verdade chegaram a dizer que a gestação nem chegaria ao final por causa da cardiopatia dele.
Voltei para a maternidade em menos de meia hora. Subi na UCI e já me deram o Dário. Eu acho que queriam que ele fosse embora logo porque deve ter tido algum problema de vaga lá. A vaga dele já estava ocupada e não tinha mais espaço. Ele estava num canto, tadinho.
A enfermeira desceu com a gente até a recepção, colocou ele no bebê conforto e eu saí com bolsa, papéis, bebê conforto e bebê. Fui pagar o estacionamento da maternidade, trouxeram o carro, coloquei o bebê conforto lá e fui para casa.
Se eu fiquei com medo de voltar assim sozinha com ele? Não.
Ontem o cirurgião cardíaco foi na maternidade conversar comigo. Fiquei péssima. Odeio esses médicos, sempre me fazem ficar péssima. Ele disse que embora o Dário esteja bem ele vai precisar ser operado. Disse que ele precisa ir freqüentemente no cardiologista para acompanhar o desenvolvimento do ventrículo direito. Se ele não estiver se desenvolvendo vão fazer o procedimento x com 6 meses, se ele estiver se desenvolvendo vão fazer o y com um ano. Se ele começar a ficar ofegante, roxo ou qualquer coisa diferente eu tenho que correr com ele.
Agora eu fico de 5 em 5 minutos olhando se ele está respirando. Isso não é legal.

Cheguei em casa quase 14:00 e já tinha que sair de novo às 16:00 para retorno na obstetra. Engoli alguma coisa, dei banho nele, dei mama e saímos. Agora vai ser outra rotina. No consultório todos queriam vê-lo. Todos reparam no cabelo. Ninguém fala nada da fenda. 

A médica foi olhar os pontos. Pelo visto já era para terem caído. 

Médica: "Você não fez dieta, né?"

Eu nem sabia que tinha isso. Já estava pensando em voltar a correr. Daí ela falou que se eu for correr o leite vai diminuir também. 

Voltei para casa podre de canseira. Só quero descansar. Não aguento mais ficar nessa correria para todo lado. Mesmo que ele não me deixe dormir, só quero ficar em casa um pouco. 

Agora ele é meu. Será que ele estava achando que alguma daquelas enfermeiras era mãe dele? Eu sempre pensava nisso. 

Na UCI tinha uma bebê sem família e elas cuidavam super bem da menina. Do Dário também, quando ele pegou o peito e mamadeira elas vieram todas ver, super animadas. 

Acho que foi bom o tempo que ele passou lá. Fora 3 grandes lições até agora:

Primeira: não tem receita de bolo para nada. Não tem como ter certeza que o filho vai nascer perfeito porque tomei ácido fólico ou meu colesterol está regulado.

Segunda: Não importa se ele nascer e não tiver um quarto montado, isso não é abominável, tem muita coisa mais importante que isso.

Terceira: Ter que aceitar outras pessoas cuidando dele antes de mim foi bem difícil. Mas a lição é que tem situações que isso é necessário. Ele precisava de cuidados especiais que eu não podia dar. 

Quantas coisas foram tiradas de mim? Vários sonhos. Mas o Dário é especial e agora começa uma nova fase.